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sábado, 15 de dezembro de 2012

3ª Parte

É estranho a cada dia que se passava naquele Colégio sentia ausência de algo ou de alguém, fiz alguns colegas logo na primeira semana, mas me via sempre sozinha na boa parte do dia, e a biblioteca era um dos lugares mais fascinantes daquele velho prédio sombrio.
As visitas a minha casa no começo eram frequentes, mas como já imaginado aos poucos viraram-se momentos de lembranças e preferia não ir para casa, encontrar aquela mulher e meu pai era algo que não me agradava mais, meu pai sempre ocupado e ela sempre me fazendo sentir mal por estar lá, sempre e a cada vez que eu voltava o relacionamento entre meu pai e eu,  se tonava mais complicado, frio. Ele há ouvia como jamais soube ouvir alguém.
Então desisti de manter contatos e comecei a pensar no que fazer nos tempos livres que teria, como as férias de 1916 e as outras que viriam. 
Por sorte o Colégio procurava jovens dispostos a passar férias estudando, dando início a pesquisas e estudos como metas de direcionarem-se na área que gostariam de futuramente entrar na faculdade, aquilo foi minha salvação entrei de cabeça no projeto com o objetivo não  bater de frente com ninguém e poder aproveitar e estudar mais, aprender algo e desenvolver meus métodos e conhecimentos. Foram nestas férias que o grupo composto por mim e mais cinco pessoas, focou-se na área da medicina, fazendo estudos, pesquisas e aprendendo com professor Eduarte Mirren, um joven professor Francês formado em Ciências biológicas e especialista e mestre em neurociências, sem dizer um excelente professor e pesquisador, mostrou um pouco sobre sua área, o que de imediato me deixou perplexa e ao mesmo modo curiosa e interessada em buscar mais informações sobre. Assim se passaram dois meses de férias de verão, dando início ao segundo semestre e projetos de férias, palestras e uma vida voltada aos estudos e a base educacional de qual caminho seguir. Deixei de lado meu pai, me vi colocando meu futuro na frente de tudo e querendo seguir um caminho para longe, talvez seria melhor assim e foi, muitas vezes recebia suas ligações e sua voz era nitidamente cansada e triste, mas sabia que ele estava feliz por ter encontrado alguém que o amava e não quis atrapalha-ló mais, deixei de ir visita-ló e ele não vinha mais, apenas cartas e ligações curtas nos mantinham em contato ainda.
Quando me formei, não fui a formatura pois tinha um curso no mesmo dia e optei ir era de um dos melhores especialistas em Neurologia clínica, a viagem custou todo dinheiro que ganhei do meu pai de presente e vendi alguns vinis a um garoto colecionador, aquilo foi doloroso, mas útil.  A palestra era em Nova York, então arrumei minhas malas e os poucos pertences, fui com alguns colegas e professores, lá eles nos mostraram coisas que jamais conheceria se ainda estivesse em Kansas.
Depois de um ano formada e estudando, passei na Universidade de medicina, passo importante que demorei contar ao meu pai, ele não ligava mais e eu ligava pouco, sempre estava ocupada e sem dinheiro, estava morando com uma colega do terceiro ano Bia Trusde, nos erámos colegas e viramos amigas de quarto, ela tinha uma família rica  e optou pagar boa parte do  aluguel e eu contribuía com a mesada que meu pai mandava, como não pagava minha faculdade, tinha ao menos os livros, estes eu usava com minha colega quando dava ou pegava na Universidade mas era difícil, no fim do primeiro ano entrei para turma de estudos científicos ele recebiam por fazerem e dedicarem seus tempos aos estudos, não eram rios de dinheiros, o suficiente para me manter, vieram seis anos puxados, estudos, estágios, trabalhos, palestras e viagens a trabalho, nosso grupo era bom e fazia palestras e seminários pagos, o que nos ajudavam muito. Assim não tinha muito tempo para ver meu pai e fazer coisas que os jovens faziam.
Com toda dificuldade que encontrei no ano de 1924 me formei como médica e teria mais alguns anos estudando neurociência, para ser uma neurologista clínica, neste período meu pai e eu não nos vimos e não nos falávamos muito o essencial par sabermos que estávamos vivos.
Um dia ele me ligou e disse que gostaria de me ver e eu fui, chegando em Kansas, encontrei triste sozinho e seus olhos me davam certa tristeza, ele me contou que Verônica o havia deixado e que ela mostrou o quão horrível era e me pediu desculpas por não ter ficado ao meu lado. 
Senti suas palavras me baterem e as minhas sumirem, disse também que o motivo era que ele estava doente e ela não queria cuidar de ninguém, pegou o dinheiro que ele havia guardado e sumiu, ele até procurou advogados mas na época não se tinha muito o que fazer.
Lembro que trouxe ele pra morar comigo e que o pegava triste e arrependido de ter me deixado e espantado como eu havia crescido e mudado muito. Sua doença era um tumor na região esquerda do cérebro e como ironia me vi sem chão com a notícia, ele tinha há anos mas não cuidou e não procurou médicos para diagnosticar ao certo.
 Eu fui a primeira a fazer isto, quando vi a situação não sabia o que fazer, ele estava ali sedado inconsciente e seu cérebro tomado por um tumor maligno, na época com poucos recursos estudei meses, passava a noite estudando e fazendo plantões e o vendo a cada dia fica pior e o desespero em fazer algo por ele, pelo meu pai. Me via cansada e sem vida além da minha profissão que se tornava algo forte demais, eu tinha chance de ter meu pai por perto, eu deveria fazer algo assim o sono desaparecia, com ajuda de médicos experientes tentávamos fazer algo. Sem saber por qual caminho.
Um dia meu pai teve que ser internado estava fraco e passando mal, lá no hospital seria mais fácil cuidar dele, ele nunca tinha me contado que estava afastado da empresa por este motivo, uma vez disse que era férias fora de época pelo estresse, sempre me escondeu para não me assustar me eixou ir embora para que eu estivesse mais adaptada a não sofrer sem ele, como se isso fosse verdade.
Eis que no dia treze de janeiro de 1929, durante uma parada cardíaca, ele teve que ser internado novamente, havia sido apenas um grande susto, mas naquela noite ele teria que ser operado, para tentarmos salva-ló, quando entrei os médicos me tiraram alegando que eu não conseguiria, fui firme e os contrariei, disse que eu deveria fazer isto, então entrei e o vi magro como jamais o havia visto, olhando ainda para mim, sorri e senti lágrimas brotarem nos olhos, mas seria forte, então ele apertou minha mão e disse: " eu te amo, faça seu trabalho doutora".
 Aquilo foi um modo de me dar forças e fazer o que devia, eu disse a ele " aguente firme ".
A cirúrgia demorou quatro horas, mas após o termino ele veio a obto, devido a fraqueza e o ponto que havia chegado o tumor, anos se desenvolvendo lentamente estava tomado 70% do seu cérebro, por isto todas suas dificuldades e motivos de não ligar, não vir me ver. 
Se ao menos tivesse me contado, tudo teria sido diferente, eu acreditei que ele não me queria por perto e não que ele estava mentido seu estado de saúde, enfim na noite que ele veio a falecer meu mundo se abriu, mas depois de alguns dias voltei fazer o que eu amo e todos os pacientes que entram na sala de cirúrgia digo a mim mesma, tente o máximo que puder e faça seu trabalho doutora.

Hoje após vinte anos, me lembro disto uma fase que se passa, fase que me deixa saudade de tê-ló aqui, mesmo que seja apenas me olhando com os olhos tristes, me dizendo com sua voz fraca que sou uma boa garota, ele não me viu crescer e optou por não me deixar infeliz, pois sabia que uma garota não saberia lidar com isto, quando tinha apenas  doze anos. Sinto sua falta e minha profissão é o bem precioso assim como minha família que infelizmente ele não conheceu, me pego vendo fotos e recordando o grande homem que ele foi, mas espero encontra-ló algum dia novamente em qualquer lugar até mesmo nos sonhos e poder abraça-ló novamente e dizer você é meu orgulho e é por você que tento fazer o melhor.
As vezes a vida toma rumos diferentes, as fases não são fáceis, mas se deve estar firme para suportar a cada batida que se leva e olhar a vida como uma fase e saber aproveita-lá, antes que se pegue o próximo trem.

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